terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O objetivo deste blog é buscar uma advocacia mais inclusiva, uma advocacia que ultrapasse as fronteiras do preconceito. Sou bacharel, recém graduada, pois me formei no final de 2018. Mas não é sobre mim este artigo, mas por todos os bacharéis, estagiários, advogados que estão encontrando barreira cada vez mais intransponíveis para ingressar no mundo jurídico. A faculdade nos dá o conceito jurídico, mas somente através da prática é que temos a verdadeira oportunidade de aprender sobre a carreira que escolhemos.
Não é admissível que em um mundo onde os avanços acontecem por milésimos de segundo, nossa advocacia se mostre tão arcaica e que se permita ainda excluir pessoas.
Ainda há vagas de estágio, assistente jurídico, advogados com  a exigência de faculdade FMU, Mackenzie, USP, PUC, FGV, como se todos que decidissem seguir a carreira tivessem a obrigação de ter condições de somente estudar nestas Universidades. Vemos vagas que exigem foto como se o candidato modelo fosse ou com a obrigação de saber o inglês fluente. Sejamos sinceros, nem todos tiveram o privilégio de aprender o inglês e não vemos por parte do contratante qualquer interesse em capacitar ou sequer pensar em capacitação do funcionário, em agir de forma inclusiva. Da mesma forma que não vejo e OAB se manifestar de forma firme e enérgica contra tal situação. Acompanho a instituição por anos, leio matérias no site, busco informações no Conselho Federal, afinal, preciso me informar e estar a par do que ocorre, na profissão que decidi abraçar.
É muito triste saber que há vagas, mas não há por parte da OAB um canal que nos defenda, um canal que fiscalize tais práticas. Muitos de nós não consegue sequer se inscrever como estagiário por não ter como pagar os emolumentos pertinentes e é aí onde tudo consegue piorar, afinal, exigem de nós a inscrição como estagiários para a vaga, além da experiência anterior e o já mencionado inglês avançado/fluente.
Se o aluno que muitas vezes é bolsista, tem crédito estudantil e até família, parcamente consegue sobreviver, como é que irá conseguir fundos o suficiente para a inscrição de estagiário? E como é que irá se adquirir a bendita experiência se todas as portas estão fechadas?
O que a Ordem dos Advogados do Brasil tem feito? Quais medidas tem tomado com o real interesse em coibir tais práticas que são tão abusivas que saltam aos olhos?
A primeira coisa que me ensinaram em meu primeiro dia de aula é que o advogado defende um direito, seja ele qual for. Mas quem está defendendo o meu direito de ser advogada (o)? Quem está defendendo o meu direito de ser estagiária (o), assistente jurídico? Quem está me defendendo de escritórios que só contrata pela cor da pele, pelo tipo de cabelo? Quem me defende por não me enquadrar no padrão de beleza do escritório? Afinal, tenho 42 anos, sou parda, obesa, não falo o inglês fluentemente, estou fora do mercado desde 2015, como é então que encontrarei apoio para conseguir me Inscrever como estagiária se parcamente consigo pagar um aluguel? Onde está a Ordem dos Advogados do Brasil diante dessa situação. O conhecimento não se mede apenas por faculdade X ou Y, mas por quanto a pessoa se debruçou sobre os livros e buscou o conhecimento, pelo dias que abdicou de estar em família e com a família para estudar, a noites de sono perdidas para estudar aquela matéria de direito administrativo, constitucional ou qualquer outra matéria, pois o sonho era justamente entrar em um escritório e aprender de forma prática aquilo que os livros traziam, afinal, formos ensinados a pensar como Damásio de Jesus, Fábio Ulhoa Coelho, Gladston Mamede, Júlio Fabbrini Mirabete, Miguel Reale, Pedro Lenza, Guilherme Nucci, entre outros grandes mestres. Somos ensinados a pensar porém não somos ensinados a praticar, não somos ensinados a questionar tais práticas abusivas e aqueles que ousam parecem carregar a " marca", pois não conseguem oportunidade na área.
Até quando teremos que viver sob a égide do preconceito? Da exclusão? Será essa advocacia arcaica que termos que levar para um futuro mais vibrante e atuante?
Quem disse que não há mercantilização do direito? Há e está claro e evidente com todos esses requisitos absurdos exigidos escritórios.
Temos que levantar a nossa voz, nos unir em prol de melhorias na advocacia. Não podemos nos esconder, fechar nossos olhos a tudo o que vem ocorrendo. Temos que parar de nos lamentar e agir.
São estas as minhas considerações sobre o assunto.

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